Sunday, December 07, 2008

Palpite sob encomenda: Índia e Paquistão

O país que chamamos de Índia tem mais de 4.000 anos de história e uma diversidade de idiomas e dialetos. Para um brasileiro médio, fica muito difícil compreender um país com tanta história e mais de 1 bilhão de habitantes num território menor do que a Amazônia Legal.
Os indianos em sua grande maioria (80%) seguem o hinduísmo, religião que valoriza um grande número de deuses e que não possui a centralização que o catolicismo tem. Isso quer dizer que ser hindu no sul da Índia não é a mesma no norte, no leste ou no oeste. O hinduísmo, entre muitas de suas particularidades, admite certas práticas humanas como um ato divino, a exemplo do sexo. Livros e ensinamentos a esse respeito não carregam a carga moralista que temos em outras religiões como o judaísmo, cristianismo e islamismo, por exemplo. No caso dessa última, é preciso sempre lembrar que seus seguidores correspondem a 13% da população. Uma minoria percentual que na prática corresponde a mais de 130 milhões de pessoas.
Divergências religiosas não são exclusividade indiana. O palpiteiro sempre lembra que no Brasil ainda tem pessoas que acham normal um jogador de futebol inscrever em sua camiseta que "Deus é Fiel" e que teriam um ataque histérico se lessem algo como "viva o Exu Caveira". Sim, também temos intolerância religiosa.
A diferença é que temos mais de 90% de cristãos que tentam falar uma mesma língua que é o português. E que se misturam em meio a outras minorias relgiosas. Na Índia, é possível nascer, crescer e morrer numa cidade ou bairro de apenas muçulmanos. Numa sociedade em que o hinduísmo aparece no cinema, na TV e, principalmente, na economia. Ser muçulmano na índia também significa ser discriminado no trabalho, na escola e nas ruas. E por isso os muçulmanos lutam por maior liberdade.
Como em outros lugares do mundo existem aqueles que lutam politicamente, dentro das regras de um jogo democrático que muitas vezes se mostra injusto. E existem também aqueles que se cansam de uma luta pacífica, partindo para ataques violentos como os que tivemos recentemente.
Entender ataques terroristas dentro da Índia exige a compreensão dessas diferenças religiosas que muitas vezes também são étnicas. Ou seja, uma população que além de ter outras crenças e valores, mantém outros idiomas.
O fato é que a Índia vive o desafio de resolver pacificamente as diferenças que carregam há séculos e, em alguns casos, milênios.
Mais uma vez temos a religião como um fator de divergência e morte. Matar em nome de um deus parece uma das maiores contradições de uma pessoa que se diga religiosa, mas é o que ainda temos na humanidade.
E por isso, o palpiteiro encerra esse palpite com uma sugestão: Saramago. O prêmio Nobel de literatura escreveu um artigo muito interessante em 19/09/2001, após os ataques de 11 de Setembro em NY. Curiosamente, começa com uma cena indiana. A quem quiser, boa sorte com um palpite do mais alto nível.

Thursday, August 28, 2008

Palpite de encomenda: energia nuclear

O Ricardo pediu um palpite sobre energia nuclear e como o assunto é de grande interesse do palpiteiro, aí vai.
A energia nuclear é cercada de mitos, medos, preconceitos e exageros. Mitos porque para muitos parece a panaceia que resolverá todo o problema de escassez de energia, dado seu grande potencial de uso. Medos, devido aos riscos que acidentes ou atentados podem provocar no caso da explosão de uma usina nuclear. Chernobyl ainda serve como um grande motivo para esse medo. Preconceitos, pois para muita gente é certo que usinas foram feitas para explodirem, assim como tudo o que se relaciona à energia nuclear leva à idéia de morte e tristeza. Exageros, pois é comum a amplificação de todos os sentimentos acima descritos...
O palpiteiro já foi um grande crítico dessa fonte de energia. Principalmente quando tinha 15 anos e ainda via a possibilidade real de uma guerra nuclear entre os EUA e a então URSS. As preocupações que levavam o palpiteiro a se opor ainda existem, mas foram ponderadas com um pouco de conhecimento sobre o assunto.
É verdade que a energia nuclear envolve riscos, problemas com a deposição do lixo atômico e as tentações para o uso maligno das bombas nucleares. Mas também é verdade que a energia gerada por elas podem alimentar hospitais e escolas que salvam vidas e levam conhecimento.
O Brasil teve uma aventura nuclear que custou muito caro. Por medo de físicos "comunistas", o regime militar preferiu torrar dinheiro com a compra de tecnologia dos EUA e da Alemanha. Quando descobriu que esses países queriam era mesmo ganhar dinheiro e não repassar tecnologia de verdade, a física e a engenharia brasileira foram chamadas.
Temos uma situação inusitada. Duas usinas com tecnologias diferentes, Angra I, dos EUA e, Angra II, da Alemanha. E temos um dos processos mais originais de enriquecimento de urânio, desenvolvido por aqui, depois de muito dinheiro público ter ido pelo ralo.
O medo da bomba não se justifica mais no Brasil. Apenas gente mal informada acreditava no débil mental do Enéas, que defendia a produção de bombas atômicas. Nossa Constituição proíbe a produção dessas armas e defende o restrito uso para fins pacíficos. Qualquer presidente teria que ter dois terços dos votos do senado e da câmara para aprovar algo que não parece ser do interesse da maioria dos brasileiros. E fazer a bomba para jogar em quem? E como?
Pelo lado do fornecimento de energia elétrica, a verdade é que o país tem crescido economicamente e aumentado seus índices de urbanização. São milhões de pessoas que adquirem a primeira geladeira ou uma segunda televisão, todos os anos. É normal o consumo aumentar até mais do que o crescimento da economia pode sugerir.
Recentemente o governo anunciou a retomada de Angra III. Decisão delicada. Terminá-la significa aumentar os riscos de acidentes na região e também os problemas com a deposição do lixo nuclear. Não terminá-la significa desperdiçar milhões de dólares com a manutenção de um equipamento caro e que não pode ser vendido. Um país com tantos problemas sociais não tem o direito de jogar tanto dinheiro fora.
O palpiteiro conhece uma pessoa que foi salva com o uso da radioterapia num tratamento contra tumor. A pessoa está ótima hoje. Ela voltou a sorrir, assim como seus familiares e amigos. Mas o palpiteiro também sabe que o Brasil possui muitas formas de obter energia que não seja apenas com o uso de usinas nucleares.
Resumindo, o palpiteiro concorda com a conclusão de Angra III e com investimentos em pesquisas na área, pois entende que o Brasil não deve ficar à margem de um conhecimento tão importante para a humanidade. Não fazer isso é depender eternamente dos outros nesse setor.
Por outro lado, o palpiteiro entende que 3 usinas nucleares já estão de ótimo tamanho. Vamos utilizá-las e zelar para que não causem problemas a ninguém. E que elas possam contribuir para a formação de técnicos, cientistas e gestores que nos ajudem a buscar fontes realmente limpas, seguras e viáveis. Enquanto não chegamos lá, vamos ter que usar mesmo o que temos. Ou o que podemos ter a médio prazo.

Tuesday, August 05, 2008

Um nome para rua

Uma pessoa que quisesse conhecer algo da história de uma sociedade poderia começar prestando a atenção nos nomes dados a alguns lugares ou monumentos. São Paulo, Espírito Santo, Santa Catarina e Trindade são daqueles nomes que logo revelam a presença católica no Brasil. Saber por exemplo que em vários lugares do país existem grandes avenidas com o nome de Getúlio Vargas também nos dá uma idéia da importância que o homem teve por aqui. De outro modo, ver que em São Paulo não se dá destaque a esse presidente, mas que ostenta com destaque a Família Mesquita e uma avenida 9 de Julho, também ensina o quanto Vargas foi negado nesse estado.
A Praça de Maio na Argentina é a grande referência à independância da nação, assim como também NY homenageou Roosevelt, batizando o aeroporto com o seu nome. Nomes de pessoas, datas históricas, nomes de batalhas são escolhidos para que as gerações seguintes saibam da diferença que alguns eventos ou personalidades tiveram na sua história.
Assim, fica fácil de entender que temos em SP homenagens a generais como Castelo Branco, Costa e Silva e até uma ruazinha com o nome do torturador Sérgio Fleury, deixando claro o destaque que essas personalidades tiveram. Saber que a queda da ditadura não removeu seus nomes, é entender que a lembrança de suas existências e "ações" não incomodam a sociedade paulista hoje em dia. Também é sintomático lembrar que não possuímos muita coisa sobre Luís Carlos Prestes, Paulo Freire e Carlos Marighela na cidade, afinal, foram os inimigos do regime e não mereceram homenagens daqueles que reprimiam. Os nomes dos lugares revelam a história tanto quando destacam como quando desprezam algumas personalidades ou fatos.
Ter um aeroporto com o nome do Governador Franco Montoro é reconhecer a importância que aquele da ditadura teve na redemocratização. Saber que Luíza Erundina escolheu o nome "Direitos Humanos" para avenida na zona norte de SP é admitir que não apenas os perseguidores mereceram destaque. Por outro lado, lembrarmos que um viaduto tem o nome de "Luís Eduardo Magalhães" é lembrar que aliados da ditadura que prosseguiram na vida política com a redemocratização conseguiram de algum modo manter a visibilidade do passado. Mudança de palco e de enredo com velhos atores...
Mas algo de estranho vem ocorrendo com os nomes dos lugares, ou logradouros, como preferem a Prefeitura e o Estado de SP. De uns tempos para cá têm surgido nomes de jornalistas. João Saad da Bandeirantes no Ibirapuera. Júlio de Mesquita Neto, do Estadão, na Marginal Tietê. Roberto Marinho na Marginal Pinheiros. Otávio Frias numa ponte horrorosa no Morumbi. Algo tem motivado a troca de militares e políticos por donos de empresas de notícias.
Alguém mais ingênuo ou estúpido poderia dizer que empresas de notícias apenas relatam fatos e que não influenciam no nosso dia-a-dia. Mas quando esquecemos médicos, professores, bombeiros, policiais, operários e passamos e destacar donos de jornais, emissoras de rádio e de televisão, é sinal de que alguns valores estão mudando. Parece que ao contrário de relatar fatos, jornalistas e patrões das notícias passaram a interferir com mais intensidade a política no Brasil.
Em época de eleições municipais, muitos se lembram que alguns vereadores apenas se dedicam a a votarem nomes de ruas e praças. Isso até parece coisa pequena. Mas esmiuçando bem a escolha de alguns nomes, veremos que até o que aparenta inutilidade tem sua razão de ser.

Monday, March 17, 2008

Trânsito: vai piorar para melhorar

Foi preciso que milhares de ingleses morressem de doenças para que Londres tivesse um sistema de esgoto.
Foi preciso que muitos europeus se matassem para que a Europa e, em especial a Alemanha, percebesse a importância dos Direitos Humanos.
Foi preciso que muitos automóveis se chocassem e que muitas pessoas morressem para que nos EUA inventassem leis e regras de trânsito.
Foi preciso que um incêndio de terríveis proporções em São Paulo, o Joelma, acontecesse para que o corpo de bombeiros fosse melhor equipado e que leis municipais se tornassem mais rigorosas quanto à segurança.
Quanto será preciso para que o trânsito de São Paulo piore para que possamos aprender que investir no transporte individual é um suicídio urbano?
Quanta fumaça tóxica deveremos aspirar até descobrirmos que o culto ao automóvel é algo que nos tem feito mal?
Quanto tempo ainda ficaremos parados no trânsito até percebermos que soluções superficiais como vistoria nos automóveis e pedágios urbanos mascaram o problema, sem alterar o problema maior: o grande número de carros?
Quantos túneis e pontes construiremos até aprendermos que quanto mais se investe na fluidez do trânsito, mais carros serão vendidos, por pura falta de alternativa de transporte coletivo dos cidadãos?
Quantos prédios e shopings serão construídos em áreas inadequadas, com ruas estreitas e já saturadas, até descobrirmos que as construções precisam ser planejadas, fiscalizadas e orientadas?
Quanto tempo ainda levará para descobrirmos que uma cidade administrada para o ganho de poucos irá prejudicar a vida diária de muitos?
Quanto tempo?
Boa notícia: a piora das condições levará indubitavelmente à busca por melhorias sérias e mais justas para todos.
Má notícia: ainda não piorou o bastante...

Wednesday, February 20, 2008

Fidel Castro

Talvez tenha sido em 1989 ou 1988. Mas tenho certeza que o governador de São Paulo era Orestes Quércia. Estava no metrô Barra Funda e vi uma movimentação anormal no Memorial da América Latina. Não muitas pessoas. Além de palpiteiro, sou curioso. Fui conferir e vi: Quércia a Fidel Castro juntos. O governador é alto, mas Fidel parecia um gigante perto dele. Ainda usava o uniforme militar de comandante. A surpresa de ver Fidel a tão poucos metros foi grande. Passando o quase susto, apenas uma certeza, tinha visto um pedaço da história do século XX passar na minha frente.
Costumo dizer que é possivel escrever um livro dizendo apenas coisas boas de Cuba. E outro apenas com as coisas ruins. Geralmente as pessoas escolhem apenas um desses caminhos ao opinarem sobre Cuba, e isso não chega a ser ruim.
Aprendi que discutir Cuba revela muito mais sobre quem argumenta do que esclarece sobre a ilha. Quando preferimos falar bem ou mal de Cuba, não mudamos muita coisa do que acontece por lá. Apenas revelamos o que achamos ser o certo ou o errado num país ou numa sociedade.
Fidel Castro é um pedaço da história do século XX. Um pedaço da história em que escolhíamos entre duas possibilidades, capitalismo ou socialismo. Não havia terceira opção. Neste dilema, uma pergunta simplificadora: a economia deve servir à sociedade, ou a sociedade deve servir à economia?
Este dilema ainda está presente. Ainda não foi superado, pois não foi resolvido.
Estou aguardando o desenrolar dessa história cubana que começou na década de 1950 e que está muito longe de acabar. No mais, vou me divertindo com essa patética imprensa brasileira. é curioso ver aqueles que têm cautela e se referem a Fidel como "líder cubano". Outros são mais descarados e dizem: "ditador cubano". A Folha de São Paulo e a Band News FM adoram essa forma julgadora.
Fidel renunciou ontem e já não é mais o presidente de Cuba. O que irá acontecer ninguém sabe, nem ele.
Sabemos que há abutres rondando Cuba. Representantes de empresas francesas, espanholas, italianas, portuguesas, canadenses, mexicanas e brasileiras estão por lá. Há um país inteiro para se reconstruir. Pelo lado brasileiro dizem que Zé Dirceu tem feito ótimos contatos, favorecendo empresas brasileiras. Reparem que agora esqueceram do Zé. Já não é mais o homem do mensalão. Trata-se do agente político entre empresas e governo brasileiro e o governo cubano.
Mas então o que é Cuba? Prefiro reponder com uma repetitiva piada:
"Um provocador anti-comunista pergunta a Fidel: fui a seu país e vi que apesar das melhorias e avanços que você diz ter alcançado, engenheiras químicas se prostituíam por 30 dólares. Que país é esse, onde engenheiras têm que se prostituir?
Fidel então respondeu: é um país tão avançado que até as prostitutas têm nível superior..."
Adoro essa piada. Revela bem isso: de que lado você está quando pensa ou fala sobre Cuba?

Friday, January 25, 2008

São Luís do Paraitinga

Há um município em São Paulo chamado São Luís do Paraitinga. Está encravado no que um de seus cidadãos, Aziz Nacib Ab´Saber, costuma chamar de "mares de morros". Além de Aziz Ab'Saber, a cidade teve também outro filho ilustre, Oswaldo Cruz, nome dado à rodovia que liga Taubaté a Ubatuba e que serve de acesso à cidade de São Luís do Paraitinga. São Luís é uma das muitas cidades do Vale do rio Paraíba do Sul que prosperaram durante o ciclo do café na região, mas que perderam a força econômica com o esgotamento de seus solos e a descoberta de solos mais férteis no interior de SP. Andando pelas ruas dessas cidades e pelas suas áreas rurais ainda se pode ver construções antigas, muitas delas abandonadas ou tansformadas em hotéis e pousadas. Esgotados os solos, hoje a paisagem rural da região tem gado leiteiro e muito eucalipto para a produção de celulose e carvão para churrasco. São Luís e outros municípios da reigião foram vítimas do uso inadequado dos solos, numa época em que pouca gente ligava para isso e o que interessava era o ganho sem preocupação. Explorar o máximo da terra sem nada devolver. Parece que pouco mudou desde então...

O palpiteiro gosta de São Luís do Paraitinga e de imaginar que num lugar tão afastado de SP nasceu gente como Oswaldo Cruz e Ab'Saber, provando que a genialidade pode surgir nos mais diversos lugares e épocas. De vez em quando o palpiteiro almoça em São Luís. Na última vez em que isso aconteceu ocorreu um caso inusitado.

Andando pelas ruas da cidade, em 18 de janeiro o que se podia ver era um exército de pessoas trabalhando para decoração de carnaval. Em São Luís ainda há carnaval de rua com marchinhas e gente fantasiada. Não pode tocar música de outros lugares, tipo Axé. Há um concurso de marchinas de carnaval, assim como um grande número de blocos. Há o bloco do lençol, por exemplo. Basta se enrolar num lençol e sair pelas ruas da cidade cantando um marchinha que foi escolhida semanas antes do carnaval. Naquele dia a cidade se preparava para uma semi-final. Bonecos gigantes podem ser vistos em lojas e casas. Tecidos coloridos e roupas exageradas também, lembrando o carnaval de rua que se brincava no RJ e em SP até décadas não muito distantes. Há um mercado municipal datado de 1924,onde se pode comprar desde um quilo de carne e uma dúzia de ovos até uma viola caipira e sacis de enfeite. O palpiteiro almoçou e foi ver o que estava acontecendo. Quando deu por si, percebeu que havia perdido a chave do carro. Procura pelos bolsos e pelo chão. Tentativa de reconstituição de todo o percurso feito. Perguntas a donos de lojas e outras pessoas para saber "se alguém tinha achado uma chave de carro..."

Meia hora de buscas frustradas. Então uma luz se fez: "será que a chave poderia estar no contato?". Corrida com a imagem na cabeça de um carro com as portas abertas e saqueado... Quando chega ao carro uma cena curiosa. Cerca de cinco moradores da cidade em volta do carro com um cartaz na mão. O palpteiro não foi idiota o suficiente para esquecer a chave no contato. Mas sim para esquecer na fechadura da porta... Um senhora viu e ficou preocupada. Disse que ninguém na cidade roubaria o carro, pois lá não tem dessas coisas. Mas não garantia pelos turistas. Também disse que uma criança poderia levar a chave do carro e por brincadeira perdê-la. A reunião em volta do carro era para saber como achar o imbecil (palpite meu...) que esqueceu a chave na porta do carro. O anúncio foi feito no auto-falante da praça e ninguém apareceu. A mulher então decidiu pela colocação de um cartaz no carro: " senhor propietário, a chave está na rua tal, número 51...". Bastaria ir até lá e dizer que o carro era meu. A mulher esperou por quase 2 horas até ter essa idéia.

O palpiteiro agradeceu como pôde. Queria ter oferecido algum presente ou algo desse tipo, o que foi devidamente inviabiliado diante das circunstâncias. Como querer agradecer materialmente a alguém que se preocupa com o que é do outro? Um obrigado sincero resolveu a questão.

Às vezes somos contaminados pelos pensamentos sobre o que há de pior nas pessoas. Mesmo procurando agir e contar com o que há de melhor, deixamo-nos levar pelo que é mesquinho e ruim. Em meio a tantas notícias e histórias ruins, é preciso lembrar que nem tudo está perdido. E que se é verdade que existem pessoas sem caráter e honestidade, também é verdade que existem outras dignas e honestas. Além de solidárias. As férias não poderiam ter acabado de melhor maneira. Trânsito na volta a SP, motoristas fazendo aberrações, barulho e medo pelas ruas. Mas também a certeza de que há muito mais do que isso. Em São Luís do Paraitinga, em SP e em muitos outros lugares desse país.

Quem puder que vá conhecer a cidade.