Wednesday, September 22, 2010

Neymar e tolo que não queria saber inglês

Um dia, na década de 1990, o palpiteiro fiscalizava uma turma de segundo ano do ensino médio durante uma prova de inglês. Um aluno não fazia absolutamente nada. A prova estava em branco e o garoto a esperar o tempo mínimo para sair da sala. O palpiteiro se incomodou, pois via que não era o caso de alguém que se preocupava com uma nota baixa. Havia algo pior: o descaso e a indiferença com um mal resultado. antipatia coletiva poucas vezes vista nos últimos anos.

O palpiteiro perguntou ao aluno por que ele não tentava ao menos fazer alguma coisa. O garoto disse com um tom arrogante que aquilo não era importante para ele. Sem entender como o inglês pode não ser importante para um paulistano no final do século XX o palpiteiro perguntou a razão dele pensar daquele jeito.

O aluno não titubeou e afirmou - com a certeza que só os incautos possuem - que seria um grande corredor de Fórmula 1 e que não precisaria estudar. O palpiteiro se intrigou ainda mais. Como alguém que tinha CERTEZA de que seria um corredor de Fórmula 1 poderia abrir mão da língua inglesa? O sábio da nota zero afirmou categoricamente que se talento o livraria daquela obrigação. E fez um círculo no alto da prova, em torno do próprio nome. Ao terminar o círculo sentenciou: guarde esse nome. Você vai ouvir muito falar dele.

O palpiteiro até hoje lembra do nome, pois "manda quem pode, obedece quem tem juízo". De vez em quando o google é acessado com o tal nome. Já faz mais de uma década. Até hoje nada. Nem no Kart, Fórmula Indy, Fórmula 1 ou corrida de saco.

O nome do dito cujo até agora não se projetou.


O palpiteiro se lembrou dessa história hoje, por acaso. No mesmo dia em que um moleque arrogante chamado Neymar conseguiu despertar uma antipatia coletiva que há muito não aparecia no futebol.


O palpiteiro acha que ainda pode se surpreender com o repentino sucesso do garoto que queria ser piloto de Fórmula 1 sem falar inglês. Mas enquanto isso não se confirma faz uma promessa: irá digitar o nome do Neymar logo após a busca pelo nome do outro garoto tolo.

Saturday, September 18, 2010

Jimi Hendrix

Ainda dá tempo de lembrar.

Pelé no futebol, Michael J0rdan no basquete, Picasso na pintura, Niemayer na arquitetura, Brecht no teatro, Garcia Marques na ficção, Saramago na imaginação, Aziz Ab´Saber na Geografia, Sergio Buarque de Holanda e Hobsbawn na história, Darcy Ribeiro na antropologia, Brizola no discurso político, Mandela na liderança política, Zilda Arns na humanidade, Regina Sader na doçura, Chico Buarque na MPB, David Gilmour na melodia, Noel Rosa no Samba, Adoniran Barbosa na provocação, Bezerra da Silva na malandragem, Carlos Drumond de Andrade na crônica e ...


JIMI HENDRIX NA GUITARRA


Saturday, September 11, 2010

Algumas lições do 11 de Setembro

Se tem alguma coisa que o 11 de setembro ensinou foi o impacto da sociedade da informação na vida contemporânea.


O palpiteiro estava numa sala de aula quando um aluno disse o que havia ocorrido naquela terça-feira. Arrogante, não acreditou na história e ordenou que prestasse atenção na aula. O palpiteiro estava errado e aprendeu que o professor já não era o senhor da verdade há muito tempo. Nunca tinha sido.


Os atentados foram meticulosamente planejados para causar o medo coletivo nos EUA e na Europa. Bin Laden sabia como funcionava a era da informação. Derrubar as torres gêmeas seria um ato mais do que violento. Seria e foi espetacular. Um espetáculo de horror.

Os EUA tinham um presidente com baixa popularidade e uma economia estagnada. Bush agarrou a oportunidade que lhe deram e encarou o papel de defensor do "mundo livre contra o terrorismo".


O mundo aprendeu que às vezes os inimigos se completam e desenvolvem uma necessidade mútua de existência. Bush precisava da figura de Bin Laden para justificar ações violentas e elevados gastos militares. Bin Laden precisava da violência de Bush para ter mais apoio de militantes terroristas. Aos dois nunca interessou a destruição do adversário. Foram atores de um teatro que teve a CNN, a Reuters e a Fox News como palco. E uma parte da imprensa mundial e brasileira como repetidoras inconsequentes.

Os atentados ensinaram que um presidente pode se aproveitar de uma tragédia para defender um governo imoral e uma postura militarista. Abafar problemas internos e manter a ordem social num país que vê seus impostos torrados com armas e gente desamparada com a tragédia do Katrina.


Bush usou o medo coletivo nos EUA para convencer seu povo e o Congresso a aprovar uma guerra estúpida no Iraque. Um senador chamado Barack Obama ensinou que ser uma voz contrária no momento em que a histeria coletiva leva um país a caminhar sob a ordem de um cego é um acerto. Obama votou contra a guerra do Iraque. Ou melhor, no Iraque. E deu a cara a tapa. Foi um político corajoso ao dizer publicamente e com destaque que aquela guerra era um erro.

Nas eleições de 2008 Obama se lançou candidato com a autoridade moral de quem tinha apontado o erro da guerra no Iraque. Mostrou-se um líder. O mundo aprendeu que manter a coerência de suas ideias mesmo quando todos se colocam contra elas pode ser um grande acerto.

Os atentados de 11 de setembro tem sido sistematicamente explorados pela mídia sensacionalista. Há poucos minutos o Jornal Nacional mostrou a reportagem de sempre. Uma cerimônia com gente emocionada e declarações do presidente dos EUA. Nada sobre a história. Absolutamente nada sobre a parceria entre a CIA e Bin Laden contra os russos no Afeganistão entre 1979 e 1988. Nada sobre as consequências dos atentados para a população pobre do Afeganistão e do Iraque.

A "grande" imprensa aprendeu que a melhor maneira de manipular a opinião pública -seja lá o que for isso- é ignorar a história. Fale muito sobre o presente. Dê detalhes sobre os atentados. Diferentes tomadas dos aviões que se chocaram no WTC. Cenas de familares tristes e bombeiros heróicos. Mas nunca fale sobre o que é o Departamento de Estado dos EUA e uma tal de CIA...

A "grande" imprensa só não aprendeu que um punhado de pessoas tem uma necessidade de informação maior do que a mísera ração diária de conteúdo que ela oferece. Mas se a "grande" imprensa não aprendeu, as pessoas aprenderam. A internet se tornou uma fonte importante de informação para quem quer algo além do que a mídia oferece. A "grande" imprensa vende o fast-food da notícia. Peça pelo número e tenha as mesmas notícias combinadas. Dois hambúrgueres, alface, queijo, molho especial especial, cebola e picles num pão com gergelim... Nem todos querem lanches prontos. Ainda há pessoas que preferem o restaurante simples, a com comida tradicional e uma boa conversa com o cozinheiro. O filé não deve ser igual para todo mundo. Há quem se contente com o prato-feito. Há quem prefira o restaurante a quilo.

As lições do 11 de setembro foram muitas. O questionamento sobre o que realmente é a "era da informação" talvez seja a maior delas. Uma lição que ainda não foi totalmente aprendida.

Saturday, September 04, 2010

Espionagem e política

O pior tipo de cobertura jornalística é aquele que se separa da história. E algo que tem marcado a imprensa mundial e a brasileira em especial é justamente o empenho em ignorar fatos históricos.

O consumidor de notícias é induzido a acreditar que está bem informado ao saber detalhes microscópicos de um caso qualquer. Descobre-se como idiota ao saber que lhe omitiram a maior parte da história.

José Serra está em meio a uma eleição na qual suas chances de vitória diminuem cada vez mais. Nos últimos dias resolveu se colocar no papel de vítima, para ver se altera alguma coisa do seu quadro de anemia eleitoral.

A acusação que faz contra o PT é grave: a violação de dados pessoais feita por gente do partido contra o PSDB e até a filha de Serra. Vendo nos detalhes e sem a ajuda da história o caso causa indignação a qualquer cidadão de bem. Nunguém tem o direito de violar a privacidade alheia para chantagear ou ter ganhos políticos num Estado de Direito. Serra estaria certo, mas...


O mesmo Serra quando foi ministro montou uma equipe de "inteligência" no Ministério da Saúde. O argumento era garantir a segurança. Qualquer grupo oficial de segurança tem esse disfarce: bisbilhotagem para segurança. Resta sempre perguntar para a segurança de quem...

Sarney não perdoa Serra até hoje, desde 2002. A filha de Sarney almejou ser candidata a presidente pelo então PFL, atual DEM. Dizem que o grupo de espiões do Serra passou a informação de que o marido de Roseana Sarney trabalhava com dinheiro ilegal. A Polícia Federal foi acionada, a candidatura de Serra deixou de ser ameaçada por Roseana e Serra disputou e perdeu para Lula em 2002. Desde então Sarney nutre uma mágoa especial por Serra.


No jornal Valor Econômico saiu uma reportagem recentemente na qual se dizia que José Serra usou os mesmos métodos para tirar seu colega de PSDB, Tasso Jereissati, da disputa para a candidatura à presidência em 2002 também. Notícia pesada, pois foi dito que Tasso chegou a chamar o aliado de Serra, Aloísio Nunes, para a briga, dentro do gabinete do FHC ainda presidente. Dois políticos saindo no tapa por conta da espionagem de Serra...


O uso da espionagem é inaceitável mas isso não quer dizer que não faça parte da política. A espionagem é tão presente quanto o caixa-dois ou as promessas que nunca serão cumpridas numa corrida eleitoral.


Há um empresário ligado ao DEM, PSDB, parte do PMDB e PT que faz uso desse tipo de recurso: Daniel Dantas. Dantas contratava uma empresa de espionagem que tinha ex-agentes da CIA, a Kroll, para espionar seus adversários na política e nos negócios. Ao menos dois jornalistas foram espionados por ele, por noticiarem fatos que o desagradavam: Ricardo Boechat, hoje na Bandeirantes e na revista Isto é, e Paulo Henrique Amorim, hoje na Reocrd. Os dois foram espionados por Dantas por meio da Kroll.

Dantas foi preso e teve dois habeas-corpus em menos de 48 horas. Os desavisados acreditaram que finalmente a Justiça brasileira resolveu respeitar os direitos dos cidadãos. Os mais maldosos acreditaram que Dantas poderia abrir a boca sobre tudo o que sabia de suas bisbilhotices. O fato é que a liberdade de Dantas foi tão boa para ele quanto para o punhado de políticos de diferentes partidos que temem pelo que ele possa um dia falar publicamente.

Daniel Dantas é temido e odiado. Dantas tem uma irmã chamada Verônica, sócia em seus negócios suspeitos. Verônica Dantas montou uma empresa com outra Verônica, filha de Serra...


Quando a imprensa se preocupa com os abusos das espionagens faz o papel de defensora do Estado de direito. Quando faz isso acusando apenas alguns e omitindo outros torna-se instrumento de disputas partidárias. Falta apenas dizer que a filha de Serra é hoje vítima de práticas de gente com quem ela chegou a ser sócia.


O palpiteiro não quer com isso justificar a eventual violência na vida pessoal de Verônica Serra. Mas não aceita ser feito de imbecil por uma imprensa nitidamente parcial.


Por curiosidade, o palpiteiro se lembrou de políticos ligados a serviços secretos e que se tornaram poderosos dentro e fora de seus países:


- Ernesto Geisel e Golbery do Couto e Silva: montaram o Serviço Nacional de Informações, SNI. Geisel se tornou anos mais tarde presidente e Golbery o Ministro-chefe da Casa Civil em seu governo. O jornalista Élio Gáspari escreveu vários 4 livros sobre Geisel e Golbery na ditadura. As informações dos livros foram obtidas com as gravações secretas que Geisel fazia quando era presidente. Gáspari herdou as fitas com as gravações: foram digitalizadas e totalizaram 200 CDs com conversas grampeadas...

- João Batista Figueiredo foi chefe do SNI, a CIA brasileira. Deixou o cargo para ser o último general presidente da ditadura.

- Romeu Tuma foi diretor do Depto de Ordem Política e Social, DOPS, órgão que espionava e matava durante a ditadura. Tuma foi o delegado que hospedou Lula quando esse foi preso em 1980. Tuma saiu da polícia, virou político é atualmente Senador por SP tentando reeleger-se.

- George Bush, pai de George W. Bush, foi diretor da CIA nos EUA entre 1976 e 1977. Conseguiu ser vice-presidente dos EUA e se tornou presidente em seguida.

- Vladimir Putin era chefe do serviço secreto da URSS, a KGB, na Alemanha Oriental. Também virou político depois e se tornou presidente da Rússia. Hoje é primeiro-ministro naquele país.


Em comum, todos eles tiveram informações privilegidas de seus adversários ao longo de suas carreiras. Em comum, a desconfiança de que usaram essa vantagem em benefício próprio.