Tuesday, November 15, 2011

Itália, Euro e um projeto de desgraça comunitária

Neste palpite segue em primeiro lugar um mea culpa. O palpiteiro sustentou pelo menos por 10 anos a ideia de que o Euro era um projeto bem-sucedido e fadado ao sucesso. Na arrogância daquele que palpita e não pensa, esse escriba chegou a afirmar, por várias vezes, que o Reino Unido não aderia ao Euro por uma questão de capricho "provinciano". O erro crucial dos eufóricos de 10 anos atrás era foi muito simples. Confundiram possibilidade com fato consumado.

Pois bem, anos se passaram entre a adoção do Euro e a crise de 2008 e, em 2011,discute-se dois pontos fundamentais: até que ponto o Euro foi uma opção bem sucedida e até quando resistirá aos sucessivos eventos que teimam em mostrar que se tratou de um projeto fracassado?

O que aqui se coloca é se o Euro, enquanto símbolo da unidade europeia , resistirá ou não.

Após a crise deflagrada em 2008 nos EUA ficou evidente que os países mais irresponsáveis com as suas irresponsabilidades financeiras teriam forçosamente as maiores perdas.

Grécia, Portugal, Irlanda e Espanha não surpreenderam portanto.

Mas o problema foi estender as incerteza a países como a Itália e a França.


Mencione sem titubear pelo menos 1 um produto grego, português ou espanhol que não seja vinho, azeite ou azeitona em conserva. Pois isso retrata a fragilidade econômica desses países. Vivem de produtos pouco rentáveis e de atividades frágeis como o turismo. Antes da crise turistas dos EUA e do Japão figuravam entre aqueles que sustentavam o comércio. Depois dela há quem duvide da capacidade econômica desses países se sustentarem.

Mas a Itália era diferente. Ou ao menos parecia. Fiat, Ferrari e Pirelli eram alguns dos ícones empresariais do país, para não falar do obscuro lastro financeiro do Vaticano...

Mas descobriram que a Itália não tinha uma economia tão sólida quanto pareciam os anúncios da Benneton. O buraco é muito mais embaixo.

Logo então seguiu a desconfiança mais óbvia. Se a Itália não tem fôlego suficiente para sustentar suas dívidas, o que seria então dos outros países da Zona do Euro?


Aí está o nó. O país pode ser o arremedo de economia moderna como a Grécia ou a potência industrial italiana, mas ninguem nega um fato: os europeus estão todos amarrados. O que chamam de crise grega é nada mais do que o risco de calote de empréstimos concedidos por bancos alemães, franceses, ingleses e americanos. Isto é, um calote europeu representa um tombo muito forte entre bancos dos mais fortes, alemães, ingleses, franceses e italianos em especial.

Daí o medo coletivo. Um calote na Grécia se estenderia a Portugal, Irlanda e Espanha. No auge da desgraça a Itália. O que se vê hoje é menos o risco de presente e muito mais o medo do futuro.

Mas como algumas desgraças não são solteiras, muitos especuladores não titubearam em perguntar: se Portugal não é tão seguro, por que a Itália o seria??

Financistas e larápios das finanças não são burros. Não esperam os caos para se movimentarem. O fogo não os assusta, pois fogem como loucos do mínimo sinal de fumaça.

A Grécia abriga a fogueira. Portugal, Irlanda, Espanha e Itália exalam fumaça...



O lastro econômico do Euro tem endereço: Frankfurt. Não é por acaso que o Banco Central Europeu está naquela cidade. A Alemanha é o principal motor econômico do Euro. Num contexto de crise generalizada a Grécia perdeu 5% por do seu PIB em relação a 201o. A Alemanha ganhou modestos 0,5%. Mas ainda assim ganhou.


Sabe-se lá o que irá acontecer.



Em 10 anos teremos apenas duas possíveis verdades. A primeira, otimista, será a de que a Europa, a despeito das turbulências, foi capaz de resistir e manter o projeto de uma unidade econômica simbolizada pelo Euro. A segunda, pessimista, apontará o Euro como uma ideia muito bem elaborada, mas que fracassou pela incapacidade de plena união daquilo que um dia chamaram de União Europeia.


O tempo será, mais uma vez, o senhor da razão.


Enquanto isso observamos o inusitado. Europeus mendicando dólares do Brasil, Rússia, Ìndia e China para acertar suas contas.


E o mais interessante. A incompetência dos líderes do presente em oferecer um solução comunitária para uma crise que é sobretudo comum.


Os líderes europeus das décadas de 1940, 1950 e 1960 foram sábios o suficiente para perceberem que perderiam muito isolados.


Os líderes europeus do presente parecem presos demais às pressões domésticas para ousarem em soluções transnacionais.


Quem viver verá. E o que se vê hoje, em novembro de 2011, não parece lá grande coisa...


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