Saturday, January 28, 2012

Cinema e ação

Em 1973 Marlon Brando foi indicado para o Oscar de melhor ator, por sua atuação em "O Poderoso Chefão". Ganhou o prêmio mas não estava na solenidade. Mandou uma índia recebê-lo em seu lugar. Não bastasse isso, pediu para que ela lesse um manifesto, no qual criticava o tratamento dado aos índios nos EUA.

Soube-se depois que a índia era uma atriz, mas ficou na história a atitude de Brando. Se a mulher era mesmo uma atriz, melhor. Pois revelou seu cuidado em fazer um protesto em forma de espetáculo.



Em 2003 quem imitou Marlon Brando foi Michael Moore. Ele recebeu o Oscar por seu documentário, aqui chamado de "Tiros em Columbine". Em seu discurso, criticou o governo Bush, que se preparava para mandar tropas dos EUA invadirem o Iraque. Dividiu a plateia entre vaias e aplausos. Isso não impediu a guerra, mas hoje, quando o mundo constata o erro de Bush, Moore tem moral para dizer que se posicionou na hora certa.

Em 2008 Fernando Meirelles também aprontou. Ganhou um prêmio de pouca expressão concedido pela "veja São Paulo" e o repassou ao juiz Federal Fausto de Sanctis. O diretor de "Cidade de Deus", "O Jardineiro Fiel" e "Ensaio sobre a Cegueira" sabia muito bem o que estava fazendo. Tinha ciência do quanto a revista veja e o resto da "grande imprensa" havia distorcido a operação Satiagraha, da Polícia Federal. A veja jogou ao lado dos acusados e contra as investigações de corrupção. O gesto de Fernando Meirelles foi contundente, pois lembrou de alguém que fez diferença naquele ano e ainda por cima bateu com muita classe na parcialidade militante da revista. Meirelles não foi exatamente original, mas foi excelente.



Em 2012 cineastas voltam à cena. Os cineastas Marco Dutra e Juliana Rojas, de "Trabalhar Cansa", receberam um prêmio concedido pelo governo do Estado de São Paulo, no Palácio dos Bandeirantes. No momento em que receberam o prêmio, Juliana leu uma moção de repúdio à ação do governo na remoção das famílias da favela do Pinherinho, em São José dos Campos. A leitura do manifesto ocorreu diante do secretário de Cultura de São Paulo, o tucano Andrea Matarazzo, também interessado em disputar a prefeitura da capital. Entre os presentes houve quem aplaudisse de pé, assim como algumas manifestações democráticas dizendo "chega!". 



As atitudes dessas pessoas do cinema são louváveis pelos riscos que se propuseram a enfrentar. No calor dos acontecimentos é sempre mais fácil seguir com a maioria ou se omitir diante de fatos que colocam em dúvida o que pensamos ser o certo ou o errado.  


Se você vivesse no mundo noticiado pela Globo ou pela veja jamais saberia desses fatos. A era da informação é muito mais do que quantidade de dados. É também a chance de usarmos os meios modernos de comunicação para ações que antes teriam pouca repercussão. Os cineastas que ousaram protestar na sede de governo do Estado sabem disso. 

E ainda bem que gente assim existe.

1 comment:

Keyth said...

Você precisa ativar a opção de compartilhamento direto do seu blog.
Muito bom!