Monday, February 06, 2012

A greve da PM na Bahia é muito mais séria do que parece

A greve dos policiais militares na Bahia merece muito mais do que as cenas espetaculares de quem mais está interessado em disseminar o pânico coletivo do que informar à sociedade. 

Policiais militares no Brasil em geral são muito mal pagos e submetidos a condições de trabalho que, se não os expõe ao risco direto da morte, diariamente os impõe dúvidas: "atiro agora?", "vou morrer?", "esse cara vai fazer alguma coisa?", "essa viatura funciona?".

Policiais militares merecem salários dignos. Assim como também os médicos e os professores. Essa greve é inusitada por isso: quantas vezes professores pelo Brasil afora foram espancados em manifestações públicas por melhores salários? E nisso essa greve se diferencia também. Os grevistas portam armas. Nunca ninguém viu cenas de professores jogando giz na população ou médicos ameaçando com estetoscópios. Mas homens de armas em punho foram vistos nas ruas de Salvador. 


Como em todo grande conflito de posições as versões dos fatos variam e não raro se contradizem. O governo estadual (Jaques Wagner, do PT) afirma que são apenas 1/3 do total de policiais que aderiram à greve.  Os grevistas dizem serem mais. Jaques Wagner foi sindicalista e sabe que os exageros de parte a parte fazem parte de uma disputa envolvendo sindicatos e governos. O curioso é que agora ele está do outro lado da mesa.

A população baiana está insegura e com razão. Lojas saqueadas amedrontam qualquer um. Mas acreditar que uma horda de bandidos resolveu da noite para o dia saquear lojas parece ser bem interessante a quem quer usar o pânico social como arma de luta. Há gente maldosa que acredita serem policiais encapuçados a agitarem saques ao comércio. Não seriam todos os grevistas, mas uma parte mais extremista. 


O líder de uma das associações de policiais - eles não podem ter sindicatos- foi candidato pelo PSDB e se mostra entre os mais exaltados. Estaria fazendo uso político da greve? Claro que sim. Toda greve é política. A questão é saber a quem interessa.


Outro fato importante dessa greve é o pano de fundo: a votação da PEC 300 no Congresso Nacional. Esse projeto de lei estabelece um piso salarial que varia entre R$ 3,5 mil e R$ 7 mil. De acordo com gente que acompanha o caso, muitas associações de policiais estariam forçando a barra para que a aprovação da PEC 300 seja mais generosa e de acordo com seus interesses. 


O palpiteiro não perde tempo com o Jornal Nacional, que normalmente reserva mais tempo ao futebol do que a banalidades como uma grevistas armados amedrontando um Estado inteiro. O palpiteiro também não se "informa' pela veja, que está mais preocupada com a grana do dono do Facebook...


Nessa história toda o palpiteiro tem buscado se informar pelo Terra Magazine, especialmente pelo jornalista Bob Fernandes, cabra bom que honra a profissão. De acordo com ele, há preocupações de governadores de outros Estados sob uma eventual onda de greves como na Bahia. Maranhão e Ceará já tiveram as suas. Espírito Santo e Rio de Janeiro seriam as próximas bolas da vez.

E São Paulo? O Estado mais rico e populoso tem uma PM com 138.000 homens. Se especularmos que 5% poderiam fazer uma agitação como a que ocorre hoje na Bahia, teríamos de cara quase 7.000 homens armados para bagunçar bem as coisas... A questão é saber até que nível há organização como na Bahia e se em São Paulo há tantas divisões. Dizem que na Bahia são pelo menos 30 associações que dizem representar todos os policiais. E em SP?

Um passarinho contou que em SP há um esquema interessante: entre oficiais a insatisfação com baixos salários e péssimas condições de trabalho é compensada com a promessa de cargos na estrutura civil. A Prefeitura de SP tem vários oficiais autuando nas subprefeituras. Outros atuam no Metrô, na CPTM, Sabesp e outras empresas do Estado. Esse mesmo passarinho estrelado e armado disse ao palpiteiro que, curiosamente, há reuniões frequentes com esses altos oficias. Para acerto de vagas, cargos e espaço. O passarinho capitão disse que não tinha cacife para participar dessas reuniões. 

Por baixo, ou seja, entre policiais de patente mais baixa, o jogo é sinistro. A lei determina que os policiais devem respeitar as leis. Prevê também punições severas para abusos de autoridade. Mas uma vez que o Estado não garante aos policias condições mínimas para um trabalho decente e os remunera mal, o que ocorre? É feita vista grossa pelos abusos que cometem. A ideia é bem simples: "para que pegar no pé desses caras que tratamos tão mal?". 


Pois bem, o jogo da hipocrisia parece ter seus minutos decisivos em 2012. A farsa de louvar policias que matam bandidos e que não respeitam leis como forma de acalmá-los por receberem tão mal está em crise. 


A greve na Bahia é muito mais do que uma reivindicação por melhores salários. É política sim. Política de Segurança Pública. Fingir que é um caso isolado não vai adiantar muito. Com a palavra o governo Federal, governadores de diferentes partidos e o Congresso Nacional.


Obs.: há alguns anos, policiais civis em greve foram confrontados com armas em punho por policiais militares em São Paulo, a poucos metros da sede do governo do Estado, onde Serra estava escondido embaixo de alguma cama. Seria interessante saber o que aconteceria no mesmo Estado de São Paulo no caso de uma eventual greve de policiais militares. Como agiriam nossos investigadores, delegados e escrivães? é melhor torcer para que não aconteça...








4 comments:

Chico. said...

Moraes, isso tudo é no mínimo contraditório... a mesma PM que desceu o cacete na população do Pinheirinho, reclamando de tomar borrachada do exército, apesar de ser em diferentes estados, é bizarro...

Sérgio de Moraes Paulo said...

Chico,

é tão bizarro quanto real...rs...

Anonymous said...

Tudo isso é uma questão de reconhecimento e satisfação com seu cargo ou posição social. Cada um quer levar uma vida que ultrapasse na medida do possível a linha da sobrevivência emergindo para algo mais digno. Mas, cada um faz da forma que lhe é oportuno. Ou cabível. Uns descem a borracha em famílias num dia de domingo para mostrar serviço e querer seu pedaço da pizza, outros tem os ânimos mais baixos e se contentam em pegar sua cobertura recheada através de corrupção ou negociação de cargos. E alguns outros, fazem greve.

Não é uma pena acontecer, mas sim os motivos dos acontecimentos

Anonymous said...

Sergio, ouvi de algum passarinho informante que seria contra a constituição brasileira policias fazerem totalidade de greve, ainda mais com armas de fogo, ja que, assim como medicos, é uma profissão essencial para a ordem da sociedade, além de colocar em risco sua segurança. E este lado, o palpiteiro não vê: