Friday, May 04, 2012

Que Tinoco descanse em paz

O palpiteiro ficou sabendo hoje, 4 de maio de 2012, que Tinoco morreu num hospital municipal de São Paulo. Ele era simplesmente metade da dupla "Tonico e Tinoco", que cantava modas de viola e música caipira (Para quem tem um pouquinho de discernimento, há a diferença entre uma coisa chamada "música caipira e um troço chamado "música sertaneja"). 

O palpiteiro cresceu ao som da música de Tonico e Tinoco. Numa época em que a música eletrônica dominava as rádios e que qualquer coisa cantada em português era mal-vista, as músicas de Tonico e Tinoco resistiam nas rádios AM. 

Os "jovens" e "modernos" sabiam de tudo. Inclusive que a música caipira era coisa de velho, ignorante e analfabeto. Os caipiras que moravam na cidade sabiam que tinham uma história, uma origem e uma dupla que cantava sobre isso. Tinham várias duplas, mas era a "Tonico e Tinoco" que simbolizava a resistência caipira numa cidade que queria ser NY com uma população majoritariamente pobre, mal-escolarizada e cabocla. 


Particularmente, o palpiteiro aprendeu a gostar mais de Tião Carreiro do que Tonico e Tinoco. Discordâncias respeitadas, Tião Carreiro é na viola caipira o que Bach foi na música erudita e Jimmy Heendrix no rock. Pessoas que amam a música reconhecem talentos e gênios que se manifestam de diferentes formas. Bach, Hendrix e Tião Carreiro. Ignorantes classificam diferentes gênios por hierarquia, com o ridículo  do "melhor" e do "pior". Tonico e Tinoco não eram os melhores. Mas eram, indiscutivelmente, autênticos. 


Quem cresceu na cidade de São Paulo, como filhos de gente do interior,  entre as décadas de 1950 e 1980,  entende bem o que se quer dizer nessa postagem. 

Para quem não vivenciou esse momento, nessas condições, a morte de Tinoco é algo banal, como a queda de um motoboy ou uma chacina na Grande SP.

Tinoco morreu. Com ele se foi um pouco da história do século XX do rádio e da música popular do Brasil. Um dia poderemos ter no Brasil o orgulho de termos artistas como Tinoco, Luis Gonzaga, Cartola e Tião Carreiro. Tanto quanto os alemães tem de Bach, os franceses de Vivaldi e os italianos de Pavarotti. Por enquanto isso não é realidade. Nossas elites continuam a beber vinho francês e acreditar que são superiores por conhecer jazz e a Flórida. Valorizam trufas e desdenham do doce-de-abóbora...Ignorantes com soberba, apenas.

Que Tinoco descanse em paz. Justiça ao seu talento e à sua importância será um dia feita. Mesmo que demore mais um pouco mais.

2 comments:

Dilalves said...

Palpiteiro, acho que você deve saber que somos contemporâneos, de uma época em que nem existiam as rádios em FM. Os programa mais ouvidos aqui em São Paulo eram, entre outros, Zé Bétio, Oswaldo Betio e Eli Correa, este ainda com seu público fiel até hoje. E meu pai, assim como tantos outros que vieram do interior, do sítio, ouvia esses programas. Eram esse radialistas que ouvíamos Tonico e Tinoco, Léo Canhoto e Robertinho, Milhonário e José Rico... Tantos nomes que fizeram parte da nossa infância e da música brasileira, e não tinham o reconhecimento que mereciam. Comece a cantarolar as músicas deles para confirmar que muita gente as conhece...
Que descanse em paz esse grande artista da música caipira.

Fernanda said...

Tinoco, mais uma perda para a moda de viola.